Decididamente Paris
não vale uma Amazônia. Terminada a Conferência de Paris para a Mudança
Climática (COP-21) percebe-se que nossos líderes políticos continuam vesgos.
Controlar o aquecimento global, assim nos tem sido ensinado, deve ser a “raison
d’etre” da geração atual. A Conferência Paris, “avec élegance”,
virou as costas para os verdadeiros e mais urgentes problemas da humanidade.
Um verdadeiro exército de ativistas e líderes políticos do lado de cima
do Equador, entre um e outro “coquille Saint-Jacques”, nos ensinam com
uma unanimidade nauseante a ordem do dia: cortar as emissões de gases do efeito
estufa, e rapidamente!
Somos sempre
informados dos “custos da mudança” climática (ver o sítio das Nações Unidas),
mas nada se diz quanto aos “custos para evitar” a mudança climática, e o mais
importante, a quem deve caber esse ônus. Não faltam advertências de que as
regiões mais pobres serão as que mais sofrerão com o aquecimento global. Os
desastres naturais se multiplicarão nessas regiões, as doenças tropicais serão
exacerbadas, e segue a cantilena. Nos ameaçam, e depois, na hora da conta, nos
transferem o “custo da dor”, e de brinde - por tanta tibieza política -, ainda
nos legam “os custos da analgesia”, em especial o “ônus total” do financiamento
das ações de “mitigação” (aquelas que diminuem o aquecimento global) e de
“adaptação” (as que ajudam a nosso ajustamento para um cenário de transição de
uma economia marrom para uma economia verde).
Importa aqui
distinguir duas situações:
a) O REDD (reduzir
as emissões pelo desmatamento e degradação) usado como mecanismo marginal para
em ação conjunta com outras medidas governamentais até pode (é bom repisar:
marginalmente) contribuir para a inclusão social daqueles que nunca poderão ser
resgatados da ameaça climática por absoluta inexistência de fontes de
financiamento regional. Nenhum problema aqui, mas que fique claro que isso não
merece tanto gasto de papel, dado a sua baixíssima importância econômica para a
Amazônia. (Por enquanto ignore-se os REDD+, REDD++, entre outros, que são
apenas variações teratogênicas do mesmo embrião); e
b) O REDD como
“o modelo amazônico de desenvolvimento” – como tem sido “vendido” para os
líderes políticos mais incautos -, é cachaça com tequila na veia: adormece e
amortece a indignação de qualquer um, e, intelectualmente, presta-se para fazer
o trabalho sujo de acalmar os mais desafortunados pela pobreza, uniformizando
em um único modo de produção, todos os “diversos modos de produção” da economia
amazônica. Um sanduíche de prego envelopado em economia de botequim.
As unanimidades
preocupam. E muito. Sobretudo quanto envolvem os governantes. Por exemplo, é
importante dizer que durante a Rio+20 (junho de 2011) a velha opção pela
“vantagem comparativa” também retornou como unanimidade requentada. Insistir na
“vantagem” de termos floresta, ou no discurso do “valor da floresta em pé”
reúne todos contra a Amazônia e apenas pereniza o atraso. É necessário investir
em grande escala no óbvio: saúde, educação e segurança e infraestrutura e
capital intelectual - o “pentágono mágico” da elevação da produtividade total.
A nossa economia de agronegócios ou de qualquer outra natureza, não sairá do
papel sem esse kit básico. E isso também é trabalhar dentro do “regime de
adaptação”, com inclusão social!
Ademais, devemos
deixar a “mitigação” (combate direto ao aquecimento global) para os ricos. Por
mais assustador que seja, a verdade é que estamos torrando “poupança pública
nacional e regional” para evitar o desmatamento quando o financiamento do
regime de mitigação deveria – de acordo com a Convenção Quadro das Nações
Unidas para Mudança do Clima - ser feito pelos países mais industrializados.
Assim não sobra recurso nacional ou local para o que é mais importante. É
preciso sair da mesmice e das Dilmices. O clima não é “a” prioridade mundial,
ou nacional, ou ainda local. Isso é balela. Fome, pobreza e desnutrição,
mortalidade ainda são a nossa “velha novidade” para os dias de hoje, e que, a
cada dia que passa, se reproduzem a passos de lebre nas paragens amazônicas. A
solução governamental de gastar com metas de emissões é exclusão social pura e
cruel. Dá no que dá!
Nossos governantes
precisam fugir do lugar comum, do que é apenas aparentemente mais simples, à La
Kyoto. Dois economistas, premiados com o Nobel, Thomas Schelling (em 2005) e
Finn Kydland (em 2004) já aderiram ao movimento internacional “Copenhagen
Consensus” (www.copenhagenconsensus.com) cujo entendimento é
de que o maior flagelo do planeta está na iniquidade, na pobreza e na fome em
níveis cruéis. Para isso temos de voltar a crescer distribuindo renda. Nossos
governantes também deveriam fortalecer e abraçar esta causa. Duas razões para
tanto:
a) O
combustível fóssil ainda é ainda é o único meio de fugir da pobreza para os
países em desenvolvimento. O carvão garante metade da energia do mundo. Na
China e na Índia, ele provê 80% da geração de energia, e tem ajudado os
indianos e chineses a usufruírem um padrão de vida que seus antepassados nunca
imaginariam possível. Não existe nenhuma “energia verde”, alcançável e de baixo
custo, que em curtíssimo prazo possa substituir o carvão; e
b) Cortes imediatos de carbono são bastante caros- e aqui, o custo supera substancialmente o benefício. Se o Protocolo de Kyoto tivesse sido implementado, teria havido uma redução insignificante de temperatura de 0,2ºC (ou 0,3ºF) a um custo de U$180 bilhões por ano. Em termos econômicos, Kyoto gera 30 centavos de “benefício” (?) para cada dólar gasto (cf.www.copenhagenconsensus.com).
O REDD é o “top
model” da vez, mas é paliativo e se usado com abuso nos transforma em selvagens
amestrados. O investimento no “pentágono mágico” (capital intelectual, saúde,
educação, infraestrutura e segurança) é a única solução consistente com a
necessidade de criação de um modelo alternativo concreto de desenvolvimento
para Amazônia.
Gastar poupança
pública com o a questão do clima, e não ter recursos para enfrentar a questão
social e o aumento da produtividade da economia, é de uma estupidez sem
limites!
Temos de pular para
fora dessa canoa furada urgentemente ...
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